A 27 de Junho deste ano, a Transportes Metropolitanos do Porto (TMP) restaurou a travessia fluvial entre Vila Nova de Gaia e Porto, criando um projecto-piloto que ligava a Afurada e o Cais do Ouro de hora a hora durante 3 meses de Verão. Esta travessia revela-se essencial para a população, que já havia clamado por ela, uma vez que o próprio responsável da TMP sublinhou que cada travessia teria cerca de sete minutos de duração, um tempo significativamente inferior ao trajeto por carro (20 a 30 minutos) ou transporte público (cerca de 50 minutos). Foi também dito que este seria um teste piloto que tinha como objetivo principal a realização de um estudo real de procura, tanto por residentes do Porto e de Gaia, como por turistas, de forma a avaliar a viabilidade de um futuro concurso público para a operação regular da travessia. Esta ligação piloto terminou a 26 de Outubro.
O Bloco de Esquerda saúda a recuperação desta ligação, mas considera inaceitável que o estudo tenha sido limitado aos meses de verão, quando estudantes e trabalhadores estão em menor atividade. Questionamos primeiramente se seria preciso um teste piloto ou se haveriam outras metodologias de estudo para aferir esta viabilidade que não uma manobra potencialmente eleitoralista, bastante curta no tempo, de devolver uma ligação tão necessária à população para tão pouco tempo depois a remover. Se o teste piloto for realmente necessário, então um verdadeiro estudo de procura deveria contemplar mais tempo, para refletir as necessidades reais de quem se desloca diariamente entre as margens.
O partido também alerta que esse teste piloto tão isolado e circunscrito no tempo poderá não ser suficiente para avaliar a viabilidade de uma rede fluvial mais ampla, que passe em outros pontos de paragem não contemplados mas mencionados pela TMP, como Avintes, Gramido, Freixo, Oliveira do Douro, Ribeira do Porto ou Cais de Gaia, como já defendemos anteriormente. Defendemos também o estudo e contemplação de mais freguesias ribeirinhas, como Lever e Crestuma, que também sofrem com sérios problemas de mobilidade acessível e transporte públicos.
Quando a TMP menciona que o objetivo do estudo era alimentar uma decisão conjunta dos executivos (de Porto e Vila Nova de Gaia) sobre a viabilidade económico-financeira da travessia, o partido lamenta que nos guiemos apenas em perspectivas economicistas e não no direito à mobilidade e no papel do transporte público como instrumento de coesão territorial.
Por fim, é mencionado que as conclusões deste teste-piloto serão partilhadas com os novos executivos. Apelamos a que o estudo resultante deste projeto seja público, garantindo transparência e prestação de contas à população, para além desta partilha com os novos executivos municipais do Porto e de Gaia.
O Bloco de Esquerda já propôs diversas vezes a implementação de um serviço público permanente de barco não só para a travessia do Douro entre a Afurada e o Cais do Ouro, mas também um transporte fluvial regular ao longo do rio, a jusante da barragem, ligando as freguesias ribeirinhas (Lever, Crestuma, Olival, Avintes e Oliveira do Douro) ao cais de Gaia, sem prejuízo de se considerar, nestas áreas, a viabilidade de alguns movimentos de travessia do rio para outros pontos da margem norte em Gondomar e no Porto. A mobilidade no rio Douro não pode continuar a ser um exclusivo dos turistas, tem de servir também as populações locais, recorrendo ao mesmo sistema de bilhética dos restantes transportes intermodais (Andante). Esta ligação reforçaria a coesão e conectividade do território ribeirinho de Vila Nova de Gaia.
Vemos com preocupação a possibilidade deste projecto ser reduzido a “uma decisão conjunta sobre a viabilidade económico-financeira“, sendo para nós uma pobreza para a democracia: A mobilidade é um pilar fundamental para construir territórios inclusivos e sustentáveis, exigindo o compromisso das autarquias com sistemas de transporte público eficientes e acessíveis. Esta ligação é um dos passos que nos permite criar territórios inclusivos, sustentáveis e ligados entre si, servindo quem vive e trabalha na região – e não apenas quem a visita. Gaia precisa de mobilidade para todas e todos, durante todo o ano.
Bloco de Esquerda
Comissão Coordenadora de Concelhia de Vila Nova de Gaia
Comissão Coordenadora de Concelhia de Vila Nova de Gaia







