Terça-feira, Maio 20, 2025

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Celebrar Abril todos os dias: a liberdade de ser e agir

 

O 25 de Abril de 1974 marcou um dos momentos mais transformadores da
história contemporânea portuguesa. A revolução protagonizada pelas Forças Armadas
pôs fim a uma ditadura que durante quase meio século sufocou liberdades, calou vozes e
travou o progresso. No entanto, mais do que o derrube de um regime, Abril trouxe
consigo um movimento profundo e duradouro: a conquista da liberdade — de ser, de
pensar e de agir.

Meio século depois, os ecos desse dia continuam vivos no quotidiano dos
portugueses. A democracia enraizou-se, não sem dificuldades ou contradições, e os
valores de Abril — justiça, liberdade, participação cívica — foram-se sedimentando,
mesmo que de forma desigual, na vida da sociedade. A liberdade tornou-se um bem
comum, ainda que nem sempre plenamente compreendido ou praticado.

Celebrar o 25 de Abril não se resume a cerimónias protocolares ou a
manifestações de ocasião. É, sobretudo, reconhecer o direito fundamental de cada
cidadão viver com dignidade, expressar-se livremente e participar na construção do
país. É garantir que a liberdade não é um privilégio, mas sim um direito inalienável. A
verdadeira homenagem a Abril reside na forma como, diariamente, damos vida aos seus
valores — nas escolas, nas famílias, nos locais de trabalho, na política, na cultura e na
cidadania ativa.

Abril não pertence a um partido, a um grupo ou a uma geração. Pertence a todos.
O seu legado não pode ser guardado como um troféu nem romantizado como uma
memória distante. Deve ser vivido, criticado, aprofundado e constantemente renovado.
Porque a democracia é um processo em contínua construção — exige vigilância,
compromisso e, acima de tudo, participação.

A liberdade que hoje temos — de sermos quem somos, de pensarmos de forma
diferente, de discordarmos — não é garantida por decreto. Exige responsabilidade.
Exige que, como sociedade, nos esforcemos por criar um espaço seguro, inclusivo e
justo, onde todos tenham lugar e voz. A pluralidade de ideias e vivências não deve ser

vista como ameaça, mas como uma riqueza que nos aproxima do ideal democrático que
Abril nos prometeu.

Hoje, mais do que nunca, importa reafirmar Abril. Perante os desafios que
enfrentamos — desigualdades persistentes, discursos de ódio, desinformação,
desvalorização da participação cívica — torna-se urgente cultivar os valores de
liberdade, solidariedade e justiça social. Porque ser livre é também lutar para que outros
o sejam.

Celebrar Abril é, por isso, um exercício diário. É assumir o compromisso de
melhorar o país em que vivemos, contribuindo com a nossa marca pessoal e coletiva. É
recusar o conformismo e a indiferença. É lembrar que a liberdade não foi oferecida —
foi conquistada. E continua a precisar de ser defendida.

Bruno Almeida Doutorando em Estudos Globais

Redação Terras de Gaia
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O Terras de Gaia está ao serviço do concelho de Gaia, apostando em reforçar a identidade histórico-cultural do espaço geográfico onde está implantada e atua., comprometendo-se a informar com rigor e verdade.