As máscaras impedem a perceção das caras como um todo. O resultado, conclui um estudo, não é muito diferente do que acontece a quem sofre de prosopagnosia.
Comecemos pelo “palavrão” avançado no superlead – prosopagnosia. Vem do grego prosopon, que significa cara, e agnosia, que quer dizer falta de conhecimento. Numa frase, é a dificuldade em reconhecer caras familiares ou previamente conhecidas. Estima-se que cerca de 2% da população mundial sofra desta condição, na maioria das vezes congénita e hereditária, e mais raramente provocada por uma lesão cerebral.
Podemos nunca ter ouvido falar da prosopagnosia, mas é provável que andemos com a sensação de sofrer dessa condição desde que as máscaras surgiram como uma medida importante para conter a pandemia. Quem o diz é Erez Freud, do departamento de Psicologia da Universidade Iorque, em Toronto, no Canadá, que liderou um estudo agora publicado na Scientific Reports.
Sob o título The Covid-19 pandemic masks the way people perceive faces (a pandemia Covid-19 mascara a maneira como as pessoas percebem os rostos), a investigação testou a capacidade de detetar caras semi-cobertas por máscaras, concluindo que a maioria dos participantes sentiu dificuldade em reconhecer semelhanças/diferenças, com 13% a evidenciar mesmo uma incapacidade comparável à das pessoas com prosopagnosia.
A explicação, acrescentam, parece residir no facto de não conseguirmos percecionar o rosto no seu todo, de uma forma holística, uma vez que a parte inferior é tapada pela máscara. Mas nem todos sentimos a mesma dificuldade.
Estudos anteriores já referiam grandes diferenças no reconhecimento facial, mesmo na população normal. Nos extremos, existem pessoas que são excecionalmente boas na perceção facial (ou seja, são super-reconhecedoras), mas também pessoas com défices graves na perceção facial (ou seja, sofrem de prosopagnosia).