Vivemos tempos de transformação profunda. A crise climática, os conflitos geopolíticos e as
desigualdades sociais não são apenas manchetes distantes — são realidades que
impactam diretamente o nosso quotidiano, a nossa segurança e o nosso bem-estar. Em
pleno século XXI, Portugal tem sido apontado como um exemplo no investimento em
energias renováveis. Em 2024, alcançámos níveis impressionantes de produção limpa,
resultado de uma aposta estratégica em infraestruturas verdes. Mas será isso suficiente?
O recente apagão geral de energia que paralisou o país veio demonstrar que a
sustentabilidade energética não se esgota na produção renovável. Mostrou, de forma clara,
a importância da resiliência e da interligação dos sistemas, alertando-nos para a fragilidade
de uma rede que, apesar dos avanços, ainda depende de equilíbrios delicados. Foi um
momento de alerta — não só para Portugal, mas para toda a União Europeia.
A sustentabilidade precisa de mais do que painéis solares ou turbinas eólicas. Requer
visão, planeamento e ação concreta. O apagão expôs vulnerabilidades herdadas de
décadas anteriores, quando o país era altamente dependente de fontes externas de
energia. Hoje, embora mais preparados, ainda enfrentamos o desafio de garantir um
sistema energético robusto, descentralizado e capaz de resistir a falhas inesperadas.
Documentos como o Plano Nacional Integrado Energia e Clima (PNEC 2030) e o Roteiro
para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050) são fundamentais, mas precisam de sair
do papel. Precisam de traduzir-se em políticas públicas eficazes, em investimentos
coordenados e em uma colaboração real entre governos, empresas e cidadãos. O apagão
mostrou-nos que não basta ambição — é necessária coragem para transformar essa
ambição em resultados tangíveis.
A sustentabilidade deve ser integrada nas decisões do dia a dia: desde a forma como
gerimos os nossos recursos, até à forma como escolhemos os nossos líderes. Métricas
como ESG (ambiental, social e governança) não podem continuar a ser apenas uma
fachada corporativa — devem guiar estratégias, influenciar decisões e promover uma
cultura de responsabilidade coletiva.
Num mundo marcado por instabilidade, a grande pergunta mantém-se: estamos
verdadeiramente preparados para construir um futuro sustentável? O apagão foi um sinal —
talvez um dos últimos — de que ainda há muito por fazer. A Agenda 2030 traçou-nos um
caminho. Mas cabe-nos, agora, tomar as rédeas, corrigir o percurso e garantir que o futuro
— esse que tantas vezes parece distante — começa já, com as decisões que tomamos
hoje.
Bruno Almeida Doutorando em Estudos Globais