“É um projeto para todos os níveis de ensino, e adaptável a todos os temas, para professores de todas as disciplinas que podem usar os jogos de forma didática para motivar os alunos na aprendizagem”, explicou à agência Lusa o professor Luís Baião, do Agrupamento de Escolas de Canelas, Vila Nova de Gaia, que partilha a ideia com o docente Paulo Serra do Nuno Álvares, Castelo Branco.
O projeto começou a ganhar forma quando ambos foram finalistas do Global TeacherPrize 2020, um galardão que visa premiar professores que se destacam na sua atividade e materializou-se no “+Power” que, de um lado, tem os jovens do “Sim, Somos Capazes” (projeto de inclusão que nasceu em Canelas) a produzirem conteúdos didáticos em ‘power point’ e, do outro, as consolas que os alunos do curso Técnico de Informática do Estabelecimento de Prisional de Castelo Branco fazem a partir de material obsoleto.
“É simples, barato e ecológico”, sintetizou, à Lusa, Paulo Serra que, admitindo estar a falar em causa própria, desejou que este projeto “inspire muitas pessoas” porque “é fácil de replicar” e visa “a transformação da reflexão, o perceber que se está a ajudar o outro” e que “todos contam”.
Entre os mais de 20 jogos de iniciação à leitura já desenvolvidos pelos jovens com necessidades educativas especiais de Gaia encontram-se exemplos como um sistema de escolha múltipla de associação de imagens a palavras ou um quadro com imagens que depois se multiplica em desafios como juntar sílabas ou completar frases.
Há também um conteúdo que junta Língua Gestual Portuguesa e, entre outros, o “casos especiais” que dá exemplos de palavras com “ch”, “lh” e “nh”, dígrafos da gramática portuguesa tantas vezes uma dor de cabeça para alunos e professores.
“Os próprios jovens do ‘Sim, Somos Capazes’ também aprendem. Ao fazerem a palavra ‘galinha’ aprenderam, pelo menos à segunda, o ‘nh’. Esta é uma ferramenta muito simples que todos podem usar, independentemente da idade ou de terem, ou não, necessidades educativas especiais. O objetivo é ser partilhado e não pago”, descreveu Luís Baião.
Os conteúdos estão acessíveis ‘online’ e, com um teclado e um rato, estão prontos a serem testados.
No entanto, os promotores do “+Power” decidiram ir mais longe e criaram uma consola física com apenas dois botões que torna o acesso ainda mais simples e prático, englobando todas as idades quem tenha determinados tipos de deficiência.
“Um miúdo que não usa as mãos e usa os cotovelos consegue usar esta consola”, contou Luís Baião, enquanto Paulo Serra desvenda que, para criar a caixinha mágica, apenas foi necessário entregar aos seus alunos do Estabelecimento de Prisional de Castelo Branco material informático que ia para o lixo, mas cujas peças podem ganhar vida nova.
O FabLab, Laboratório de Prototipagem Rápida do Centro de Empresas Inovadoras de Castelo Branco, ajudou na prototipagem e o modelo já foi apresentado a todo o país através de uma apresentação que juntou via ‘online’, devido às contingências da pandemia da covid-19, “centenas de pessoas, entre os quais psicólogos de várias áreas e professores de todos os níveis de ensino”, conta o docente de Castelo Branco.
“É tremendo ver o resultado, mas também como alunos em ambiente prisional conseguiram responder de forma positiva ao desafio. Em ambiente prisional há, por vezes, dificuldade em motivar. Lancei-lhes a proposta, levei vídeos e mostrei as histórias, e assisti a um crescendo de motivação. Trataram o projeto com muito carinho. Perguntam: ‘os meninos vão mesmo usar isto?’. E procuraram estar associados, acompanhar. Quando homens habituados a ambientes austeros e começam a tratar o outro por ‘meninos’ notamos o impacto. Fez-se mudança”, descreveu Paulo Serra.
Apresentado ao mundo, o “+Power” vai iniciar agora uma nova etapa, os ‘workshops’ e as formações, mas para isso necessitava de mais recursos.
As câmaras municipais de Vila Nova de Gaia e de Castelo Branco “entusiasmaram-se” e já financiaram a produção de 20 consolas, revelou Luís Baião.
Paralelamente uma professora de artes de Ourém está a ajudar com as ilustrações, de forma a que não sejam infantilizadas.
“No fundo conseguiu-se criar uma rede de voluntários para desenvolver e construir materiais”, disse Luís Baião sobre um movimento, o “Power Gurus”, incluído no “+Power”, projeto que tem como valores “fazer acreditar, implicando socialmente, através da simplicidade”.