Uma cidade é um aglomerado de comunidades, compostas por pessoas, empresas, associações, escolas, entre outros, que podem trabalhar em conjunto, por forma a resolver problemas que afectam a todos. Foi a pensar nesta situação que, em 2019, nasceu, no quarteirão da Biblioteca Municipal, em Gaia, o projecto “Meu Bairro, Minha Rua”. Depois de ter passado também pelos quarteirões de Quebrantões, Cedro e António Sérgio, os bons resultados alcançados levaram a que, agora, o projecto seja alargado a Grijó, Canidelo e Canelas.
O primeiro passo passa por distribuir, recolher e analisar os questionários distribuídos aos moradores, porta a porta, onde é solicitado que identifiquem os principais problemas da área onde residem. Isto porque o projecto pretende potenciar a participação e responsabilização dos cidadãos, entre eles e com o espaço público, eliminando (ou atenuando) problemas como a fragmentação social, a falta de consciência cívica, o isolamento social, a falta de diálogo, a perda da noção de comunidade e a existência de comportamentos desviantes.
A iniciativa, da responsabilidade da câmara municipal de Gaia, prevê sete áreas de intervenção e resulta de uma parceria com o Instituto Padre António Vieira (IPAV), através do programa “Ubuntu no Bairro” – conceito que “integra em si um propósito de intervenção comunitária de proximidade, procurando que o diálogo, as redes e a participação de confiança sejam os factores críticos para o desenvolvimento comunitário, bem como para uma comunidade mais coesa e participada”.
Mais do que simplesmente resolver problemas, o projecto, co-financiado pela iniciativa Portugal Inovação Social, “procura envolver famílias (encontro e colaboração intergeracional para colmatar o isolamento social e a desfragmentação), a escola (formação e capacitação de docentes e educadores e capacitação de crianças e jovens pela metodologia e clubes Ubuntu), as empresas (para promover a responsabilidade social para o desenvolvimento comunitário) e a comunidade (envolvimento alargado da comunidade, percebendo o conceito de interdependência comunitária)”.
Os benefícios esperados a longo prazo incluem o desenvolvimento pessoal e transformação de cada docente, educador e estudante; consciência cidadã activa, responsável e comprometida; participação activa, coesa e construtiva; criação e consolidação de redes de confiança e pertença; redes comunitárias capacitadas e empoderadas para uma intervenção colaborativa; envolvimento e animação de redes de colaboração para respostas de intervenção articuladas e complementares; envolvimento e activação de empresas locais para o desenvolvimento da comunidade local.
Como explica a câmara municipal de Gaia, o método Ubuntu assume o desenvolvimento de cinco competências centrais que estão na base do processo de crescimento humano: tornar-se pessoa. Num primeiro nível, são promovidas competências focadas no indivíduo (autoconhecimento, autoconfiança e resiliência), e, num segundo nível, competências sociais e relacionais (empatia e serviço). Formar líderes servidores e construtores de pontes, promover uma ética do cuidado, transformar crenças, atitudes e comportamentos e restaurar a dignidade humana são os principais objectivos lançados e que serão alcançados através de uma educação não-formal e do recurso a ferramentas lúdico-pedagógicas, como reflexões, filmes, contos, músicas, textos e experiências.
