Entramos há umas semanas na reta final de mais um ano letivo escolar. No ensino secundário, a maioria dos estudantes prepara agora o acesso ao ensino superior de forma pouco tradicional. Não há como esconder a anomalia dos últimos tempos que se traduziu não só na modalidade de ensino à distância, mas também na renovação do entendimento do Governo face ao papel dos exames, tanto para efeitos de cálculo da classificação interna, como para melhoria.
No terceiro ciclo, urge referir que também há milhares de alunos que ainda não estão a par das condições com que vão chegar a Junho. A eliminação dos exames de 9o ano é apresentada a discussão, tema que, pese embora a crise pandémica, já não é novidade na Assembleia da República.
Na generalidade, o percurso académico tem sido pautado por constantes irregularidades. Em 2019 era impossível prever que uma pandemia obrigaria a sociedade ao estado de recolher obrigatório. Somos, efetivamente, a geração mais bem preparada para readaptar os costumes através dos meios tecnológicos disponíveis, mas não estávamos preparados para uma alteração tão radical. E, perante esta incapacidade, a aprendizagem, individual e coletiva, viu-se consequentemente limitada. Volvido mais de um ano, com o ensino presencial a voltar, ainda de forma gradual, os resultados das provas diagnósticas que foram realizadas após este regresso foram preocupantes: a nível de literacia, da leitura e da informação houve inúmeros estudantes que não conseguiram responder com o mínimo de sucesso exigido. Na matemática os resultados foram ainda piores. Foi facilmente percetível que o ensino à distância não pode sequer ser equiparado ao ensino presencial.
A educação é para muitas gerações dos poucos ou mesmo o único instrumento de elevação social que não está pendente de rendimentos monetários do agregado familiar ou do código postal do indivíduo. Perder-lhe o fio condutor é sinónimo de limitar a geração mais bem preparada de todas.
Há, portanto, a curto prazo, duas soluções admissíveis capazes de fazer com que a comunidade estudantil recupere no menor espaço de tempo possível os níveis normais de aprendizagem. A primeira seria através de programas de tutoria (aulas de Verão). Os alunos cujas dificuldades fossem mais vincadas estariam sujeitos a aulas durante o período de férias de Verão para que conseguissem recuperar os atrasos consentidos durante o período de confinamento. Os programas seriam distribuídos de acordo com as dificuldades dos estudantes. A modalidade de avaliação diagnóstica supranumerada foi realizada em mais de 300 estabelecimentos de ensino distribuídos por diversos agrupamentos. É, assim, mais fácil analisar as especificidades de cada região.
No entanto, estes instrumentos de análise são insuficientes e os programas de tutoria inúteis se não forem devidamente customizados. E eis que entra a segunda solução admissível: A necessidade de realizar os exames neste período. No 9o ano estes poderão ser uma ferramenta importante para selecionar matérias cuja aprendizagem tenha sido mais débil, ajudando posteriormente a prevenir o choque de entrar num ciclo diferente. Há o estigma de se caracterizar os exames como ferramenta de seletividade social. E é certo que as condições de lecionação não foram estandardizadas. No entanto, abandonar a população que teve mais problemas no acesso às melhores condições na educação, não os conseguindo avaliar
devidamente, seria pactuar com o aumento de taxas de abandono escolar no futuro, tal seria o embondo no acompanhamento das disciplinas para este nicho, que infelizmente tem vindo a crescer. Caso estes conseguissem, através de uma prova totalmente imparcial, mostrar o nível a que se apresentam atualmente, poderiam, por conseguinte, consoante as dificuldades no exame, ser devidamente ajudados para uniformizar as condições com toda a comunidade.
No secundário os exames poderiam ajudar a repor alguma normalidade nos critérios de avaliação e a imputar alguma justiça na atribuição de notas, que poderá porventura ser desfasada da realidade e pôr em causa o rendimento no ensino superior. Proibir o acesso a melhorias é não só uma afronta ao trabalho desenvolvido por alunos, professores e famílias, como também constitui uma injustiça intergeracional, uma vez que até há dois anos atrás, todos tiveram oportunidade de realizar melhorias.
Em suma, consciente das dificuldades que a pandemia impingiu nas famílias, que ou não tinham meios eletrónicos capazes de corresponder às necessidades do ensino online ou não tinham como gerir a vida profissional com a vida pessoal, os exames poderão ter um papel fundamental no avanço das aprendizagens da comunidade estudantil e na prevenção do puritanismo no percurso que cada um respetivamente seguirá. É importante referir que os anos de transição de ciclo (que estão sujeitos a exames) são os que apresentam as mais elevadas taxas de reprovação, ainda nos dois dígitos percentuais, e são igualmente, neste momento, os períodos que deixam mais dúvidas no seio do corpo estudantil.
Bernardo Rodrigues Ribeiro