4. FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICA DA PROPOSTA MUSEOLÓGICA
4.1. Princípios orientadores
Mais do que baseado em conceções memorialistas ou patrimonialistas, o Museu pretende responder às novas perspetivas da sociedade contemporânea, marcada pelos processos decorrentes da globalização e das possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias, não prescindindo de um sólido acervo museológico.
O Museu procura assumir-se como um espaço multifacetado, polo de criação e de irradiação cultural, destinado a públicos nacionais e internacionais.
Alicerçado nas modernas abordagens museológicas, o Museu propõe-se assumir responsabilidades no processo de desenvolvimento social das populações com que interage, promovendo o desenvolvimento de um espíritos crítico, através da perceção do outro, da diferença, do encontro/confronto entre práticas e culturas distintas.
Alicerçando-se em conceitos de património e de memória social que em nada se identificam com o espírito do colecionismo ou com a mera recordação memorialista e apologética de eventos isolados, este projeto museológico remete para a complexidade dos processos que a viagem, a descoberta e os encontros de culturas produziram na região Norte, em Portugal, na Europa e nos continentes com que interagiram. Evocam-se dinâmicas de trocas e de reciprocidade – antropológicas, etnográficas, materiais, humanas, linguísticas,
artísticas, de que decorreram importantes contributos para a construção da expansão da humanidade e da evolução científica.
4.2. Conceção teórica de um programa museológico
Todos os produtos culturais testemunham os contextos da sua produção. Este projeto não será exceção.
Apresenta-se como um produto do seu tempo e por isso reflete algumas das orientações e das leituras
académicas mais recentes. Em concreto, a narrativa museológica propõe-se integrar quatro vetores-chave do
ponto de vista interpretativo:
1. A articulação programática entre a LOGÍSTICA do processo (técnica e ciência náutica;
construção naval; tipologias de embarcações e frotas navais; agentes de navegação), as suas REALIZAÇÕES e DECORRÊNCIAS (navegação, comércio, evangelização, colonização, emigração), os seus IMPACTOS (técnico-científicos, culturais, demográficos, económicos, políticos, antropológicos) e as suas REPRESENTAÇÕES diacrónicas através da literatura, arte, fotografia, cinema, e da produção científica.
2. A multidisciplinaridade, apontando para perspetivas e leituras integradas da HISTÓRIA, da ARTE, da ARQUEOLOGIA, da ANTROPOLOGIA, do URBANISMO, da CIÊNCIA, da SOCIOLOGIA…
3. A projeção de um protagonismo histórico que integre o papel da COROA/ESTADO, mas
também o dos AGENTES PARTICULARES, que em REDES AUTO-ORGANIZADAS e INFORMAIS foram
responsáveis por dinâmicas económicas e antropológicas, incompreensíveis sem este novo enfoque analítico.
4. O princípio de que com este processo transformador se assiste à construção de uma Primeira Idade da Globalização, que se firma em relações de RIVALIDADE, CONFRONTO e CONFLITO, mas também, se não sobretudo, em relações de COOPERAÇÃO, definidas a nível global, das quais resultam interações, transferências, permeabilidades e impactos recíprocos. Fundos documentais e cartográficos, espólios museológicos, representações iconográficas, cultura material darão prova destes fenómenos, que terão como linhas interpretativas os vetores previamente enunciados.
5. DINAMIZAÇÃO CULTURAL
Qualquer projeto, por mais consistente que seja, tende a esgotar-se se não conceber, desde o início, um plano de renovação e de sustentabilidade. Neste sentido, pretende-se complementar uma exposição permanente com exposições temporárias tematicamente orientadas.
Um plano de interação com a comunidade escolar, alicerçado em princípios pedagógicos e didáticos sólidos afirma-se, igualmente, imprescindível.
A organização de colóquios, em articulação com as exposições temporárias, convocando especialistas nacionais e estrangeiros, e a promoção de publicações destinadas a um público alargado, integram o plano cultural do Museu, traduzindo uma intensa atividade, exigente de um financiamento estável e garantido.
A possibilidade de, para além de um Museu em espaço físico, se poder também vir a construir, com base no seu programa, espólio e sustentação científica, um Museu Virtual, acessível via web, poderá apresentar-se como uma extensão do programa de disseminação cultural do Museu.
6. ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL
Prevê-se a celebração de um conjunto alargado de protocolos com parceiros institucionais, públicos e privados, que inclua Autarquias, rede de Museus, Universidades e outras Comunidades Escolares, através das suas múltiplas áreas de especialidade académica, tecido empresarial e financeiro, mas que se estenda, também, às comunidades de emigrantes, cuja diáspora se inscreve no processo interpretativo que sustenta o Museu.
A sua plena concretização não pode, porém, prescindir de um suporte e de um financiamento institucionais, que garantam o seu funcionamento com sustentabilidade e integrado na rede museológica nacional e internacional.
7. RERCUSSÃO DO PROJETO NA CIDADE E NA COMUNIDADE
Os benefícios que um projeto desta dimensão trará para Vila Nova de Gaia são muito mais vastos do que os meramente económicos, apesar de antevermos que estes serão muito relevantes, como resultado de um enorme afluxo de visitantes que o projeto trará ao concelho. A implementação deste projeto será profundamente transformadora. Não temos dúvidas de que Vila Nova de Gaia dará um imenso salto qualitativo. As propostas museológicas apresentadas aos visitantes da região terão um acréscimo qualitativo imenso com a criação deste tesouro icónico, o qual potenciará a atração de pessoas e de projetos que em muito contribuirão para um ainda maior desenvolvimento e cosmopolitismo de Vila Nova de Gaia.
Vila Nova de Gaia, 05 de julho de 2022
Pelo Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia Municipal,
Fernando Almeida (Prof. Doutor)