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PROPOSTA DE RECOMENDAÇÃO DE CRIAÇÃO do MUSEU DA GLOBALIZAÇÃO FERNÃO DE MAGALHÃES – Parte 1

Prólogo
Uma das propostas apresentadas pelo PSD, que reputamos de muito importante e com
um significativo alcance económico, social e cultural, foi a PROPOSTA DE RECOMENDAÇÃO DE CRIAÇÃO do MUSEU DA GLOBALIZAÇÃO FERNÃO DE MAGALHÃES, a qual muito nos apraz apresentar aos Gaienses. Trata-se de um projeto muito ambicioso cuja implementação não exige a construção simultânea dos quatro polos descritos no Projeto Museológico. Na verdade, acreditamos que o ideal seria iniciar a implementação do projeto pela construção do Pólo 3.2 – Período da expansão nos séculos XV e XVI. Os fundos resultantes das visitas a este espaço proporcionariam um bom contributo para a construção dos restantes polos.

Não perspetivamos o museu como um museu tradicional cujo acervo físico seja (quase) tudo. Este projeto, que queremos de excecional qualidade, será muito mais viável se o dinamizarmos numa perspetiva do acervo digital e de automação em que a tecnologia, os efeitos visuais, as técnicas cinematográficas, os efeitos multimédia, a inteligência artificial, as experiências imersivas se conjugam para proporcionar ao visitante experiências únicas e encantadoras, como a descoberta da Amazónia pelo visitante, como se ele próprio fosse o seu descobridor.

Como os leitores da nossa Proposta facilmente depreenderão, este projeto tem um enorme potencial para desenvolver o nosso Concelho, proporcionando uma maior internacionalização de Vila Nova de Gaia e a expansão do número de turistas nacionais e internacionais que nos visita anualmente. Em termos comparativos, acreditamos que este Museu teria um potencial para desenvolver Vila Nova de Gaia ainda maior do que o Futuroscope teve para o desenvolvimento de Poitiers, em França.

Esta proposta foi aprovada por maioria na reunião da AMG do dia 05 de julho de 2022,
com 43 votos favoráveis à proposta (PSD, PS, Grupo Municipal dos Presidentes das Juntas de Freguesia do PS, CDS, CH e PAN), 3 votos contra (CDU e IL) e 2 abstenções do BE. Apesar desta aprovação, e até à data, não temos conhecimento de que tenha sido tomada qualquer iniciativa pelo atual executivo da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia (CMG) no sentido de implementar o Museu.

1. A PERTINÊNCIA E A OPORTUNIDADE DO PROJETO 1

É consensual o reconhecimento da falta de um espaço museológico relevante dedicado à Globalização e às Descobertas, ao contributo de Portugal para esta evolução, e à síntese cultural resultante desses processos, que se defina em interação com o grande público e que produza efeitos nas comunidades de cidadãos e no público escolar.

Tanto quanto sabemos, a Câmara Municipal do Porto chegou a abordar/equacionar criar um Museu dos Descobrimentos (na presidência do Dr. Fernando Gomes); Sabrosa tem uma exposição permanente sobre Fernão de Magalhães; a eventual criação de um Museu das Descobertas em Lisboa é uma questão esparsamente abordada nos media desde há alguns anos. A Direção Regional da Cultura do Norte, em parceria com os municípios de Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Esposende, Viana do Castelo, Caminha, Matosinhos, Porto, Vila Nova de Gaia, Espinho, Ponte da Barca e Sabrosa, coordenou uma exposição polinucleada com o intuito de se associar ao ciclo evocativo/comemorativo e reforçar a duradoura relevância da Volta ao Mundo de Fernão de Magalhães, a qual decorreu entre 1519 e 1522. Esta exposição “Circum-navegando… do local ao global – Transferir saberes através dos Oceanos – a construção naval”, está ainda patente ao público em Vila do Conde, na Alfândega Régia – Museu de Construção Naval, no âmbito das comemorações dos 500 anos da primeira viagem de circum-navegação por Fernão de Magalhães.

Em 2009, o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, disse, em Belmonte, na inauguração do centro interpretativo e museu «À Descoberta do Novo Mundo», centrado no Brasil e na viagem de descobrimento de Pedro Álvares Cabral, navegador natural daquela vila, que fazia falta em Portugal um grande museu das Descobertas e globalização portuguesas e que devia ser construído rapidamente.
A exposição Encompassing the Globe – Portugal e o Mundo nos séculos XVI e XVII foi, à data da sua realização (2007), uma das mais bem-sucedidas da Smithsonian Institution de Washington, com mais de 380 mil visitantes. Cento e setenta das suas peças puderam ser observadas em Lisboa, em 2009, no Museu Nacional de Arte Antiga, evento que se revelou um sucesso.

A pertinência da implementação deste Museu é também científica e didática, porquanto decorre da necessidade de se proceder a uma atualização, junto da comunidade nacional e internacional, de tradicionais perspetivas tecidas sobre este processo, marcadas por ideologias comprovadamente anacrónicas. Para as obviar, não bastam as recentes revisões académicas do fenómeno, uma vez que estas raramente alcançam públicos alargados.

1 Este documento contém elementos da Fundamentação Científica do “Museu das Descobertas e Encontro de Culturas” elaborado, em 2009, pela Associação dos Amigos das Descobertas (AMIDE) cujo presidente da direção foi o subscritor deste documento.

2. A CIDADE DE VILA NOVA DE GAIA COMO SEDE DESTE PROJETO MUSEOLÓGICO

Vila Nova de Gaia é um dos concelhos que muito tem investido na criação e apoio aos museus. Entre outros, relevamos o programado investimento de 25 milhões de euros para transformar a antiga fábrica de cerâmica das Devesas num museu dedicado às alterações climáticas em Gaia e no mundo.

A proposta de sediar o Museu da Globalização Fernão de Magalhães em Vila Nova de Gaia é facilmente justificável. No julgado do Porto, o qual incluiu o Porto e as povoações de Gaia e Vila Nova entre 1383-1832, nasceram o Infante D. Henrique, Pêro Vaz de Caminha, Fernão de Magalhães, Estêvão Gomes e Nuno da Silva, entre outros. Curiosamente, a personalidade que dá início a este movimento de expansão marítima portuguesa e a que primeiro circum-navega a Terra são ambas naturais do Porto 2 (respetivamente, o Infante D. Henrique e Fernão de Magalhães 3 ). O Porto constitui uma das cidades litorais portuguesas que, através da construção naval, navegações, comércio e emigração se encontra intrinsecamente ligada ao processo histórico que se pretende evocar e divulgar. Dos estaleiros da Ribeira de Miragaia saíram muitas das embarcações que integraram as frotas navais ultramarinas, ao serviço particular e régio, inclusive, as que foram capitaneadas por Vasco da Gama, na sua primeira viagem à Índia; a sua comunidade mercantil é reconhecida, desde a Idade Média, pelo seu empreendedorismo e protagonismo nos circuitos mercantis nacionais e europeus; o seu porto de mar constituiu-se como uma plataforma de saída de vastos contingentes de homens e mulheres, que alimentaram os
circuitos seculares de emigração, nomeadamente para o Brasil.

A importância e centralidade da urbe neste processo deve-se também ao facto de o Porto se constituir como um polo de articulação de redes de complementaridade geográfica, demográfica, logística e económica. As suas influências estendem-se por toda a faixa litoral do NW português e articulam-se com dois quadrantes essenciais: por um lado, um vasto espaço ultramarino, gerador de importantes e diversificadas dinâmicas de contacto; por outro lado, um hinterland alargado que fornece sustentabilidade a um processo de longa duração, marcante no devir histórico da sociedade portuguesa.

A localização do Museu na cidade de Vila Nova de Gaia é justificável, também, porque o primeiro homem a circum-navegar a Terra (Fernão de Magalhães) era natural do Porto e a família tinha propriedades em Vila Nova de Gaia 4 . Além disso, Fernão de Magalhães saiu definitivamente de Portugal a partir do Porto, em 1517, após vir tratar dos seus assuntos pessoais. Ora, dado que Fernão de Magalhães tinha uma herdade em Vila Nova
de Gaia, parece-nos realista pensar que Fernão de Magalhães terá iniciado a sua saída de Portugal a partir de Vila Nova de Gaia.

2 Doravante, quando nos referirmos ao Porto, estamos a referir o julgado do Porto, dado que nos focamos no período em que Gaia e Vila Nova estavam integradas no julgado do Porto.
3 Ao longo dos últimos séculos, o local de nascimento de Fernão de Magalhães foi atribuído a sete localidades diferentes: Lisboa, Ponte da Barca, Figueiró dos Vinhos, Sabrosa, Telões (Amarante), Braga e Porto. Atualmente, não há qualquer dúvida de que Fernão de Magalhães nasceu no Porto.
Garcia, J.M. (2019). Fernão de Magalhães – Herói, Traidor ou Mito (p. 28-45). Manuscrito: Queluz de Baixo.
4 No seu testamento, Fernão de Magalhães legou a propriedade que detinha em Vila Nova de Gaia, e que herdara do pai, afavor de uma irmã.

Como vemos, são múltiplas as razões por que Vila Nova de Gaia está profundamente ligada à expansão marítima e a Fernão de Magalhães, o mais célebre navegador de todos os tempos e cujo nome se encontra na toponímia de inúmeras cidades em todo o mundo e, inclusive, já viajou para o espaço (sonda Magellan ou Magalhães enviada pela NASA a Vénus, em 1989). A implementação deste Museu em Vila Nova de Gaia, no concelho onde Fernão de Magalhães tinha a sua herdade, terá, por este motivo, e pela consequente
representação imagética a transportar para o Museu, uma atratividade mundial apenas comparável à que exerceria a cidade do Porto.

O Museu, porém, não pretende restringir a evocação do fenómeno em representação museológica apenas a esta cidade ou ao Norte do país; pelo contrário, pretende integrar este espaço e as respetivas dinâmicas num complexo de relações – territoriais, políticas e económicas mais vastas, que transcendem o espaço nacional, e estabelecem interações com complexos geoistóricos que abrangem o Mediterrâneo, o Norte da Europa, o espaço Atlântico e os mundos Orientais.

3. O PROJETO MUSEOLÓGICO

Este projeto, pela sua complexidade e dimensão, envolverá verbas substantivas e poderão decorrer vários anos até à sua conclusão. No nosso entendimento, este projeto terá de envolver o município e a comunidade gaiense, embora deva ser liderado pelo executivo da Câmara Municipal.

Idealmente, o projeto do Museu da Globalização exigiria um edifício que lhe fosse inteiramente dedicado, com uma estrutura arquitetónica adaptada à sua finalidade, que possa ser, por si só, uma referência, e que valorize e harmonize os conteúdos. Contudo, a expansão do museu poderá ser progressiva e a solução inicial diferente e mais adaptada à disponibilidade económico-financeira existente.

Não perspetivamos o museu como um museu tradicional cujo acervo físico seja (quase) tudo. Este projeto, que queremos de excecional qualidade, será muito mais viável se o dinamizarmos numa perspetiva do acervo digital e de automação em que a tecnologia, os efeitos visuais, as técnicas cinematográficas, os efeitos multimédia, a inteligência artificial, as experiências imersivas se conjugam para proporcionar ao visitante experiências únicas
e encantadoras, como a descoberta da Amazónia pelo visitante, como se ele próprio fosse o seu descobridor.

Perspetivamos este projeto como constituído por um edifício com quatro polos a serem construídos em fases sucessivas (dando prioridade ao polo relativo aos séculos XV e XVI): 1) Período da expansão até ao final do século XIV; 2) Período da expansão nos séculos XV e XVI; 3) Período da expansão nos séculos XVII e seguintes; 4) Período da expansão aérea 5 e espacial.

5 Viagem aérea é aqui considerada como viagem de avião ou objeto similar entre diferentes regiões terrestres.

3.1 Período da expansão até ao século XIV

Este polo contempla dados sobre a evolução filogenética, a evolução da espécie Homo, as alterações climáticas verificadas na Terra e as suas implicações na expansão humana, a saída do Homo de África e a sua expensão pelo globo, o desaparecimento do Homo de Neanderthal, a travessia do estreito de Bering de populações asiáticas para o continente americano…as viagens dos vikings…a viagem de Marco Polo…a rota da seda…

3.2 Período da expansão nos séculos XV e XVI

Integra o período da expansão marítima chinesa, repentinamente interrompida; dos descobrimentos marítimos portugueses e espanhóis, incluindo a evolução técnica e científica verificada e que permitiu a realização da exploração marítima pela humanidade; as viagens de outros navegadores, como Francis Drake (teve como piloto Nuno da Silva). Serão descritas as viagens e descobertas efetuadas, de entre as quais destacamos as viagens capitaneadas por Cristóvão Colombo (descoberta da América em 1492), Vasco da Gama (descoberta do caminho marítimo para a Índia em 1498), Pedro Alvares Cabral (descoberta do Brasil em 1500), Fernão de Magalhães (circum-navegação, entre 1519-1522, concluída por Sebastián Elcano 6 ) e Cristóvão de Mendonça (mapeamento da Austrália entre 1520-1524).

3.3 Período da expansão nos séculos XVII e seguintes

Como seria expectável, os descobrimentos efetuados originaram um recrudescimento e imparável expansão e distribuição da humanidade pela Terra. Muitos destes movimentos e/ou as respetivas consequências são desconhecidos do grande público, propiciando um enriquecimento cultural muito significativo aos visitantes (e.g.: quantos portugueses e brasileiros saberão que o Brasil detém uma enorme área do Amazonas graças à viagem de Pedro Teixeira, entre 1637-1639?).

3.4 Período da expansão aérea e espacial.

Iniciado por Bartolomeu de Gusmão aquando da demonstração, perante D. João V, em 1709, da sua passarola, o primeiro objeto voador construído pelo ser humano, este movimento seria secundado pelos irmãos Montgolfier que construíram o primeiro objeto voador tripulado do mundo e o demonstraram em 1783. Desde então, a progressiva sofisticação dos objetos que permitem ao homem efetuar viagens aéreas e espaciais, ou
explorar o espaço, tem sido incomensurável.

6 A própria morte de Fernão de Magalhães e as circunstâncias em que ocorreu são elementos cuja análise é pedagógica.

 

Vila Nova de Gaia, 05 de julho de 2022

Pelo Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia Municipal,

Fernando Almeida (Prof. Doutor)

Redação Terras de Gaia
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O Terras de Gaia está ao serviço do concelho de Gaia, apostando em reforçar a identidade histórico-cultural do espaço geográfico onde está implantada e atua., comprometendo-se a informar com rigor e verdade.