Combate à desinformação no voto

Artigo de Opinião de Bernardo Ribeiro

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Findados os debates entre os candidatos às próximas eleições legislativas, conclui-se que há ainda muito por retificar para que se criem condições que tornem a discussão política mais apelativa aos olhos dos portugueses. Ficou, desde logo claro, que só Francisco Rodrigues dos Santos tinha e tem a real intenção de abordar temas relacionados com a Educação em Portugal.

Mesmo perante:

1- O anúncio do Ministro da Educação, na reabertura do presente ano lectivo, de que “cada aluno na escola pública custa ao estado, em média, €6.200 por ano”; valor que aumentou substancialmente nos últimos anos e tornou a Educação pública em Portugal mais cara e com pior qualidade;

2- Uma pandemia que obrigou os estudantes a adaptarem-se à modalidade de ensino on-line que já provou ter sido manifestamente prejudicial para os níveis de aprendizagem dos alunos;

3- Um Ministro da Educação que prometeu no passado a distribuição de computadores para os estudantes, para que se criassem condições para o ensino à distância, e no entanto, a maioria deste material tecnológico ainda está por distribuir;

4- A perspectiva que em menos de 10 anos não tenhamos professores suficientes para o número de alunos que se estima ter;

5- A situação dos professores que são a segunda classe profissional que acusa mais casos de burnout em Portugal;

6- A circunstância dos alunos que reprovaram de ano por não frequentarem uma disciplina que muitos consideram de cariz optativo;

7- A escassez de psicólogos devidamente especializados para o acompanhamento de problemas de saúde mental dos alunos;

8- Um problema gravíssimo de habitação estudantil no Ensino Superior;

mesmo perante tudo isto; os moderadores optaram por limitar e enviesar o debate para temas pouco importantes e de forma pouco rigorosa, mesmo na única transmissão com duração superior a 30 minutos entre os representantes dos dois partidos com maior representação parlamentar.

Infelizmente a Educação é só um exemplo flagrante de eixos e áreas insubstituíveis que ficaram por esclarecer.

A arte do debate ficou novamente um pouco aquém do vulgarmente esperado. A expectativa da discussão de ideias foi rapidamente substituída pela realidade traiçoeira da

busca de visibilidade através de conversas estilo “Big Brother”. Não quero com isto advogar que a culpa é dos principais intervenientes, leia-se, os candidatos. À exceção de um único tribuno apologista destes moldes grosseiros e pouco perceptíveis de discussão, viu-se o desespero de alguns líderes na tentativa de se expressarem para milhões de eleitores em 11/12 minutos de antena. E não fosse a escassez temporal já adversário suficiente, víamos ainda a moderação com interpelações pouco convenientes e fora de contexto.

Escrevi aquando das eleições presidenciais que existe um estigma enraizado na nossa população que os políticos são profissionais pouco confiáveis. Naturalmente que perante esta bolha, os eleitores acabam por não se expressar em urna. Lamentamos a pouca participação mas pouco vemos a mudar. As galas de reality shows e os programas mais banais são alvo de comentários e transmissões que preenchem a programação dos canais principais. Abdicamos da cultura em prol da promoção de conteúdos desinformados.

Haveria tanto a merecer a nossa preocupação mas para já vemo-nos obrigados a continuar a batalhar a letargia abstencionista dos últimos anos.